O Mar!
Cercando prendendo as nossas Ilhas!
Deixando o esmalte do seu salitre nas faces dos pescadores,
roncando nas areias das nossas praias, batendo a sua voz de encontro aos montes,
… deixando nos olhos dos que ficaram a nostalgia resignada de países distantes …
… Este convite de toda a hora que o Mar nos faz para a evasão!
Este desespero de querer partir e ter que ficar! …
— Poema do Mar, Jorge Barbosa

Os quatro elementos – Por Joaquim Saial

No recente lançamento do livro “Poemas para a hora de ponta”,



Nosso poeta Joaquim Saial, nos brindou uma interessante e observadora trova, onde numa pachorrenta madrugada, narrou a natureza em movimento;

"Poema inédito"

Os quatro elementos

Era ainda noite cerrada,
quando o poeta se levantou.
Urinou,
descarregou o autoclismo,
lavou as mãos,
bebeu água
e, através da janela,
viu a chuva
e o rio que ela engrossava.

O vento soprava ameaçador,
fazendo estalar o arvoredo
e a roupa esquecida nos estendais.
Abanava telhas,
águas-furtadas,
para-raios
e cataventos
e fazia remoinhos de folhas no ar.

Para aplacar a insónia,
o poeta colocou um tronco na lareira,
acendeu-a e acendeu nela um cigarro,
antes de ver uma reportagem na tv
sobre os incêndios desse verão.

Já raiava a manhã,
quando a tempestade amainou
e ele saiu para a horta,
para sentir o cheiro da terra molhada
e ver como o barro descido da encosta
lhe melhorara a propriedade,
tapando covas que antes tinha.

O sono voltou ao poeta.

Mas antes de adormecer de novo,
decidiu ali mesmo que o último poema
do livro que estava a acabar
se intitularia "Os quatro elementos",
banda visual da sua insónia.

Sinopse

“Poemas para a hora de ponta” apresenta-nos 40 peças que oscilam entre o documental e o fantástico, lirismo discreto e momentos de dramatismo, humor e sarcasmo. É num antigo e assumido gosto do autor pelos textos intensamente americanos de Sam Shepard (sobretudo da sua poesia) e na poética da música (Dylan, Neil Young…), para além da inspiração oferecida por portugueses como Mário-Henrique Leiria, que reside a origem desta variada e sedutora panóplia de produções.
A ode primeira, que faz jus ao título do livro, é acertada abertura para uma poesia de índole urbana (algo lisboeta) em que o autor, uma vez por outra, surge como narrador. Porém, percebe-se que prefere apresentar ao leitor a maior parte das peças como anónimos painéis de fruição, em registo quase cinematográfico, que prendem e fascinam.
Os notáveis desenhos de João Ribeiro entrelaçam-se magistralmente no universo poético que Joaquim Saial nos traz, fazendo desta uma obra inesperada e assaz convidativa, afinal passível de ser lida a qualquer hora… até na hora de ponta.

SOBRE O AUTOR
JOAQUIM SAIAL
Joaquim Saial (1953, Vila Viçosa), é mestre em História da Arte (UNL) e licenciado em Ciências Humanas e Sociais (UNL e ISSS-Lx).
Bolseiro da FCG e docente dos ensinos médio e universitário (INP e UCP-Lx), publicou “Estatuária Portuguesa dos Anos 30 – 1926-40”, Bertrand Editora, Lx, 1991; “Manuel Gamboa. A Arte por Vida”, C. M. Lagoa (Algarve), 1998; “Capitania, Romance de Cabo Verde”, Editorial Notícias, Lx, 2001 e “Seixal. Arte Pública”, C. M. Seixal, 2009 (esgotados).
Participou noutros sete livros. Centenas de artigos em publicações de Portugal, Cabo Verde, Espanha e Roménia e em catálogos de arte, dezenas de palestras sobre arte, cultura e história e diversas outras actividades, na área da cultura e arte, em Portugal e no estrangeiro.
Informações sobre o Livro “Poemas para a hora de ponta”, poderão serem adquiridas no endereço para correspondência:
Cordel d' Prata
Avenida Tomás Ribeiro Nº47, 1ºB
Carnaxide, Lisboa 2790-463 - Portugal    

Outros trabalhos do autor:
- Arquivo de Vila Viçosa
- Praia de Bote
- Livros & Livros