O Mar!
Cercando prendendo as nossas Ilhas!
Deixando o esmalte do seu salitre nas faces dos pescadores,
roncando nas areias das nossas praias, batendo a sua voz de encontro aos montes,
… deixando nos olhos dos que ficaram a nostalgia resignada de países distantes …
… Este convite de toda a hora que o Mar nos faz para a evasão!
Este desespero de querer partir e ter que ficar! …
— Poema do Mar, Jorge Barbosa

Nas mãos do inimigo no momento derradeiro

Estas interrogações são para ti, meu irmão guerreiro:
Irmão,
De que te serve seres muito culto
e falares várias línguas, e dialectos,
se não és capaz de sentar à mesa,
com os teus semelhantes, inimigos
ou não, e chegar a um simples acordo
e cumpri-lo ?



De que te serve seres um grande guerreiro,
teres um alto posto de comandante, e boa posição,
se em vez de protegeres o teu povo
fazes o contrário e o teu povo sofre
devido à força das armas mal empregadas?


De que te serve fazeres uma luta sem glória
durante uma vida inteira
cheia de sacrifícios fora do comum, se ela não
tiver como objectivo a paz, e se não for para
uma causa justa em benefício de todos?


De que te serve a valentia, (que até pode ser verdadeira)
a tua capacidade de liderança e inteligência,
se não são empregadas para o bem de todos?


De que te serve a riqueza, ou a riqueza do teu
próprio país, se não é empregada para o bem
para acabar com a miséria e não deixar as crianças
passarem fome e morrerem de inanição?


De que te serve a morte física
quando caíres nas mãos do inimigo
e seres impiedosamente metralhado
por dezenas de balas, se no
momento derradeiro perguntares a ti mesmo:
o porquê e para quem se é estupidamente morto
daquela maneira, arrastado e enterrado
sem dignidade, e não encontrares uma
resposta que te satisfaz, e dê sossego à tua alma?



Mário Évora
Autor reside em Cabo Verde
Título publicado:
Gazeta do Racionalismo Cristão