Visita a Cabo Verde do Dr. Gilberto Silva
por Luiz Silva
No dia 26 de Fevereiro passado, ao convite duma associação de racionalistas cristãos cabo-verdianos, desloquei-me à Rotterdao-Holanda a fim de fazer uma conferência sobre o Padre António Vieira (Lisboa 1608 - Baia 1697).
Se o nome de António Vieira ficou ligado a luta contra a escravatura dos índios e dos africanos e pela sua passagem por Cabo Verde onde encontrou em 1652 "clérigos e cónegos tão negros como azeviche, mas tão compostos, tão autorizados, tão doutos, tão grandes músicos, tão discretos e bem morigerados, que podem fazer inveja aos que lá vemos nas nossas catedrais" não se deve ignorar que a sua historia politica esteja ligada às cidades holandesas de Roterdão e Amesterdão, a nova Jerusalém do Norte como foi chamada, onde vivia uma grande colonia de emigrantes judeus português, expulsos pela Inquisição, e que dominavam não só a economia mas também a cultura.
Assim como os judeus "cristãos novos" foram a Holanda em procura de pão, dignidade e liberdade aconteceu o mesmo com os cabo-verdianos, vítimas das consequências da escravatura e também da colonização, em procura não só' do pão de cada dia, mas também de dignidade e liberdade.
O padre António Vieira visitou várias vezes Roterdão e Amesterdão em procura de meios matérias e culturais para realizar o seu projecto do V Império. Os cristãos novos da Holanda investiram nas bancas, no comércio e em especial na educação a ponto de possuírem no seu seio os maiores intelectuais da Europa e acima de todos o famoso filósofo Spinosa (Espinhosa) em português.
Vieira chegou a dizer que se os cristãos novos regressassem a Portugal com os meios económicos e culturais que possuíam, então Portugal poderia transformar-se num dos países mais ricos do Mundo. Incompreendido, preso pela Inquisição, Portugal perdeu a histórica oportunidade de ser o pais que sonhara o Padre António Vieira. E eu direi que se os emigrantes cabo-verdianos se dispuserem de todas as suas potencialidades poderemos ajudar a fazer de Cabo Verde uma grande Nação Falta-nos simplesmente um projecto para o fazer a grande Nação que o povo espera…
Em todas as casas dos racionalistas cristãos cabo-verdianos temos uma fotografia com três figuras: Luiz de Matos, Luiz Alves Thomas e o Padre António Vieira. Se os dois primeiros emigrantes portugueses dos Trás-os-Montes não somente deram a vida para o bem-estar das suas famílias mas também para o triunfo do racionalismo cristão, a figura do padre António Vieira parece mais complexa pela dimensão política e humana da sua obra.
Não é somente a condição emigrante dos seus fundadores o mais importante para encontrar alguma semelhança com os cabo-verdianos: a nossa emigração, com problemas vários que não se limitam ao emprego, procura também desenvolver a sua espiritualidade e eis o interesse pelo racionalismo cristão.
Mas se formos ao fundo desta emigração na Holanda, da criação dessa comunidade, encontraremos valores expendidos pelo Racionalismo Cristão como a solidariedade, a fraternidade, a amizade fidelíssima ao próximo e acima de tudo a verdade como arma do sucesso na vida espiritual e material. Em poucas palavras é uma comunidade que emerge do racionalismo cristão
A nossa emigração navega com muitos problemas que não serão resolvidos com soluções sociais mas sim com a reconquista dos valores que condicionaram os seus objectivos de emigrar. . O que precisamos acima de tudo é de valores morais para oferecer de coração aberto aos nossos filhos e a nossa comunidade.
O diagnóstico já está feito em quase todas as nossas comunidades onde cada dia a nossa juventude se afasta dos padrões das cabo-verdianidades: precisamos de acção ou melhor dum projecto cultural que nos identifique dentro e fora da nossa comunidade nos países da emigração
Por isso, pensar Vieira, conhecer a sua obra nos interessa, porque o exemplo de Vieira, que emigrou criança para o Brasil e que regressa adulto à Portugal, com um sentido da Nação que pertence, com um patriotismo invulgar, gostar-nos-íamos de vê-lo aplicado nas nossas comunidades. Como pode o Brasil colonial produzir um homem desta grande dimensão sem uma leitura das obras do Racionalismo Cristão?
O interesse de Vieira para os cristãos-novos, como solução para a reconquista moral e material de Portugal, traz cada dia mais interesse à comunidade em conhecer a sua vida e a sua obra porque Cabo Verde precisa não só dos meios materiais dos emigrantes mas também dos seus valores espirituais.
Em verdade a emigração cabo-verdiana precisa movimentar-se através dum projecto cultural para a emigração, de escolas e liceus, de centros de formação, duma rede associativa com objectivos concretos, de centros culturais e dum consulado ou embaixada com poder de intervenção a todos os níveis na vida da comunidade.
Não podemos continuar a "laisser faire" ou "laisser passer" e esperar que as soluções venham de Cabo Verde. Temos de enfrentar dignamente a nossa realidade e encontrar dentro das comunidades a solução para os problemas mais gritantes da nossa nação, dentro e fora do Arquipélago.
Não é de agora que o racionalismo cristão, nascido no Brasil em 1910, exerce a sua influencia na sociedade cabo-verdiana. Como também ninguém ignora a influência do Brasil na nossa música onde puderam emergir um Eugenio Tavares (conhecido como o Catulo Cearense cabo-verdiano), o Luiz Rendall, um dos maiores intérpretes do violão e clarinete, B.Leza, o mais consagrado dos compositores cabo-verdianos, autor da morna dedicada ao Brasil, sem esquecer um Jotamonte, Luis Morais, aluno extremoso do Pichinguinha, um Manuel de Novas que já se define como racionalista cristão ou mesmo o Morgadinho e Paulino Vieira que já nas suas composições se referem ao racionalismo cristão.
A influência do Brasil, em especial do nordeste, está gostosamente na revista Revista Claridade (1936), e ainda no romance Chiquinho de Baltasar Lopes, nos romances de Manuel Lopes ou na poesia de Jorge Barbosa. Ao nível do ensaio literário António Aurélio Gonçalves despejou toda a sua erudição sobre a Clarissa de Érico Veríssimo.
Mas Osvaldo Alcântara, poeta maior das nossas letras num dos heterónimos de Baltasar Lopes, não esqueceu o poeta Manuel Bandeira e o seu itinerário para a Passargada, amargamente mal compreendido. .Nenhum claridoso deixou de se referir a importância deste irmão maior mas irmão, parafraseando o Manuel Lopes.
Com o golpe de Estado de 1926, o direito ao associativismo é vetado em Portugal e nas colonias e o racionalismo cristão em Cabo Verde é obrigado a refugiar-se nas catacumbas. Henrique Baptista e João Miranda os seus principais mentores em Cabo Verde, serão obrigados a fechar as suas casas racionalistas.
Foi em casa do professor João Miranda, na Rua de Coco em São Vicente, onde o jovem da época Amílcar Cabral chegou a residir, que este se iniciou na leitura do racionalismo cristão e que veio a marcar a sua obra política. . Expressões como "guia e luz" ou a ideia da criação dum homem novo são constantes nas obras de Amílcar Cabral herdadas da leitura racionalista feita em casa do João Miranda, pai do nacionalista cabo-verdiano, Lineu Miranda.
O Racionalismo Cristão assim surge como uma filosofia de libertação em Cabo Verde. São nas colonias de emigração a começar pelo Senegal ou nos Estados Unidos que renascem as primeiras casas racionalistas cristãos fora de Cabo Verde. Mas com a emigração para a Holanda e a possibilidade de visitar constantemente o Brasil onde os emigrantes podem visitar o Centro Redentor e obter livros para a sua formação e que também enviam para Cabo Verde ou para as comunidades emigradas que o racionalismo cristão vai-se impor dentro e fora de Cabo Verde em quase todas as famílias.
Com a Independência surgiu mais de seis casas racionalistas em São Vicente e em quase todas as ilhas aparecem cada dia novas casas racionalistas. Explicando sempre que não é uma religião mas sim uma doutrina filosófica, que foi coordenada por Luiz de Matos e Luis Alves Thomas sob a influencia astral do padre António Vieira, defendendo a reencarnação como etapa necessária da evolução do homem, deseja abrir-se à sociedade, aos leigos e não leigos, propondo mesmo que a doutrina seja ensinada e debatida nos liceus e outros fóruns culturais. A internet e a radio veio contribuir de maior forma a este debate tão necessário e que se impõe em todas as comunidades cabo-verdianas.
Roterdão, na Holanda, não somente resolveu os problemas económicos de Cabo Verde nos anos sessenta. Roterdão tem sido também o centro de todas as experiencias culturais e politicas da emigração Ao nível da musica, ao nível do associativismo ou ao nível do racionalismo cristão, tudo tem partido da Holanda desde os anos sessenta.
Falar da Holanda não somente nos lembra a construção de novas casas, da transformação da sociedade, mas também da Voz de Cabo Verde, do jornal Nós Vida e outras edições, da resistência ao partido único mas especialmente da implantação do racionalismo cristão na Europa, tanto em várias cidades da Holanda, França, Suíça, Luxemburgo, Suécia, etc. ; Esta visita do vice-presidente do Centro Redentor, constitui, nas palavras do Dr. Gilberto Silva uma homenagem aos cabo-verdianos na divulgação do racionalismo cristão no Mundo.
O Dr. Gilberto Silva esteve também em Paris nas casas racionalistas onde destilou lições sobre a amizade, a fraternidade e a modéstia que exigem o racionalista cristão, que não serão facilmente esquecidas. Aqui em Paris, embora num curto espaço de tempo, pode visitar a cidade, conceder uma grande entrevista à Radio France Internacional que será transmitida na quarta-feira, 15 de Março e almoçar com o nosso Embaixador de Cabo Verde, Dr. José Armando Duarte.
Na Holanda o Vice-Presidente no dia 11 de Março na festa de comemoração do 15° aniversario da Casa Racionalista Crista dirigida pelo Sr. Vitorino Chantre que tem sido um verdadeiro apóstolo da divulgação do racionalismo crestão na Europa, abrindo varias casas racionalistas em todos os lugares e formando a maioria dos seus dirigentes.
Viajou no dia 12 de Março para Portugal e segue para Cabo Verde no dia 17 Março onde vai visitar as casas racionalistas de São Vicente, Santiago, Boavista e Sal. Lamentamos que não faça uma visita ao Paul na Ilha de Santo Antão, que possui uma das mais antigas casas racionalistas em Cabo Verde.
A presença do Dr. Gilberto Silva nas comunidades racionalistas em Cabo Verde e na sua emigração foi duma grande contribuição e esperemos que d'agora para o futuro essas visitas possam ser mais constantes para dar indicações, afastar divergências e traçar novas metas para o racionalismo cristão.
Veio, nas suas próprias palavras, homenagear os cabo-verdianos emigrantes pelo seu papel importante na divulgação do racionalismo pelo Mundo. E vai a Cabo Verde também homenagear o povo cabo-verdiano pela sua adesão a esta filosofia que não pede nada a ninguém e que se predispõe pela lei do pensamento positivo a responder à todas as preocupações do homem. O seu jornal A Razão ou ou o sito internet www.racionalismo-cristao@org.br/ permitem aos cabo-verdianos de refazer a sua educação e de dialogar sobre vários problemas de ordem material e espiritual.
Os cabo-verdianos emigrantes, mesmo durante este inverno, não poupam esforços em estar presentes nas sessões organizadas às segundas, quartas e sextas-feiras. E por isso merecem a nossa mais elevada consideração e respeito. E desejamos que esta visita do vice-presidente do Centro Redentor do Brasil encontre o melhor acolhimento e que se retire as lições necessárias para continuar a lutar e a viver na emigração para enriquecer a nação Cabo-verdiana.
Os nossos políticos deviam se inspirar desta filosofia que se preocupa simplesmente em servir a Nação Onde há ódio encontrarão a amizade e a fraternidade, onde há diversidade encontrarão uma grande riqueza, porque na honestidade todos os caminhos vão à Roma.
Esperemos que no Cabo Verde real, os Municípios, o Governo, as forças vivas da Nação, se dignem receber dignamente o irmão maior Gilberto Silva, que em nome do Presidente Perpetuo Humberto Machado, vai homenagear o povo cabo-verdiano.
Visita a Cabo Verde do Dr. Gilberto Silva
Presidente em exercício do Racionalismo Cristão
Cabo-verdianamente,
Luiz Silva — Paris — 13-03-06
Fonte:
http:// www islasdecaboverde com.ar/islas de cabo verde /noticias/ 1_visita_a_cabo_verde_do_dr_gilberto_silva_vice_presidente_d.htm
http:// www racionalismo-cristao.org.br/gazeta/diversos/cabo-verde.html
por Luiz Silva
No dia 26 de Fevereiro passado, ao convite duma associação de racionalistas cristãos cabo-verdianos, desloquei-me à Rotterdao-Holanda a fim de fazer uma conferência sobre o Padre António Vieira (Lisboa 1608 - Baia 1697).
Se o nome de António Vieira ficou ligado a luta contra a escravatura dos índios e dos africanos e pela sua passagem por Cabo Verde onde encontrou em 1652 "clérigos e cónegos tão negros como azeviche, mas tão compostos, tão autorizados, tão doutos, tão grandes músicos, tão discretos e bem morigerados, que podem fazer inveja aos que lá vemos nas nossas catedrais" não se deve ignorar que a sua historia politica esteja ligada às cidades holandesas de Roterdão e Amesterdão, a nova Jerusalém do Norte como foi chamada, onde vivia uma grande colonia de emigrantes judeus português, expulsos pela Inquisição, e que dominavam não só a economia mas também a cultura.
Assim como os judeus "cristãos novos" foram a Holanda em procura de pão, dignidade e liberdade aconteceu o mesmo com os cabo-verdianos, vítimas das consequências da escravatura e também da colonização, em procura não só' do pão de cada dia, mas também de dignidade e liberdade.
O padre António Vieira visitou várias vezes Roterdão e Amesterdão em procura de meios matérias e culturais para realizar o seu projecto do V Império. Os cristãos novos da Holanda investiram nas bancas, no comércio e em especial na educação a ponto de possuírem no seu seio os maiores intelectuais da Europa e acima de todos o famoso filósofo Spinosa (Espinhosa) em português.
Vieira chegou a dizer que se os cristãos novos regressassem a Portugal com os meios económicos e culturais que possuíam, então Portugal poderia transformar-se num dos países mais ricos do Mundo. Incompreendido, preso pela Inquisição, Portugal perdeu a histórica oportunidade de ser o pais que sonhara o Padre António Vieira. E eu direi que se os emigrantes cabo-verdianos se dispuserem de todas as suas potencialidades poderemos ajudar a fazer de Cabo Verde uma grande Nação Falta-nos simplesmente um projecto para o fazer a grande Nação que o povo espera…
Em todas as casas dos racionalistas cristãos cabo-verdianos temos uma fotografia com três figuras: Luiz de Matos, Luiz Alves Thomas e o Padre António Vieira. Se os dois primeiros emigrantes portugueses dos Trás-os-Montes não somente deram a vida para o bem-estar das suas famílias mas também para o triunfo do racionalismo cristão, a figura do padre António Vieira parece mais complexa pela dimensão política e humana da sua obra.
Não é somente a condição emigrante dos seus fundadores o mais importante para encontrar alguma semelhança com os cabo-verdianos: a nossa emigração, com problemas vários que não se limitam ao emprego, procura também desenvolver a sua espiritualidade e eis o interesse pelo racionalismo cristão.
Mas se formos ao fundo desta emigração na Holanda, da criação dessa comunidade, encontraremos valores expendidos pelo Racionalismo Cristão como a solidariedade, a fraternidade, a amizade fidelíssima ao próximo e acima de tudo a verdade como arma do sucesso na vida espiritual e material. Em poucas palavras é uma comunidade que emerge do racionalismo cristão
A nossa emigração navega com muitos problemas que não serão resolvidos com soluções sociais mas sim com a reconquista dos valores que condicionaram os seus objectivos de emigrar. . O que precisamos acima de tudo é de valores morais para oferecer de coração aberto aos nossos filhos e a nossa comunidade.
O diagnóstico já está feito em quase todas as nossas comunidades onde cada dia a nossa juventude se afasta dos padrões das cabo-verdianidades: precisamos de acção ou melhor dum projecto cultural que nos identifique dentro e fora da nossa comunidade nos países da emigração
Por isso, pensar Vieira, conhecer a sua obra nos interessa, porque o exemplo de Vieira, que emigrou criança para o Brasil e que regressa adulto à Portugal, com um sentido da Nação que pertence, com um patriotismo invulgar, gostar-nos-íamos de vê-lo aplicado nas nossas comunidades. Como pode o Brasil colonial produzir um homem desta grande dimensão sem uma leitura das obras do Racionalismo Cristão?
O interesse de Vieira para os cristãos-novos, como solução para a reconquista moral e material de Portugal, traz cada dia mais interesse à comunidade em conhecer a sua vida e a sua obra porque Cabo Verde precisa não só dos meios materiais dos emigrantes mas também dos seus valores espirituais.
Em verdade a emigração cabo-verdiana precisa movimentar-se através dum projecto cultural para a emigração, de escolas e liceus, de centros de formação, duma rede associativa com objectivos concretos, de centros culturais e dum consulado ou embaixada com poder de intervenção a todos os níveis na vida da comunidade.
Não podemos continuar a "laisser faire" ou "laisser passer" e esperar que as soluções venham de Cabo Verde. Temos de enfrentar dignamente a nossa realidade e encontrar dentro das comunidades a solução para os problemas mais gritantes da nossa nação, dentro e fora do Arquipélago.
Não é de agora que o racionalismo cristão, nascido no Brasil em 1910, exerce a sua influencia na sociedade cabo-verdiana. Como também ninguém ignora a influência do Brasil na nossa música onde puderam emergir um Eugenio Tavares (conhecido como o Catulo Cearense cabo-verdiano), o Luiz Rendall, um dos maiores intérpretes do violão e clarinete, B.Leza, o mais consagrado dos compositores cabo-verdianos, autor da morna dedicada ao Brasil, sem esquecer um Jotamonte, Luis Morais, aluno extremoso do Pichinguinha, um Manuel de Novas que já se define como racionalista cristão ou mesmo o Morgadinho e Paulino Vieira que já nas suas composições se referem ao racionalismo cristão.
A influência do Brasil, em especial do nordeste, está gostosamente na revista Revista Claridade (1936), e ainda no romance Chiquinho de Baltasar Lopes, nos romances de Manuel Lopes ou na poesia de Jorge Barbosa. Ao nível do ensaio literário António Aurélio Gonçalves despejou toda a sua erudição sobre a Clarissa de Érico Veríssimo.
Mas Osvaldo Alcântara, poeta maior das nossas letras num dos heterónimos de Baltasar Lopes, não esqueceu o poeta Manuel Bandeira e o seu itinerário para a Passargada, amargamente mal compreendido. .Nenhum claridoso deixou de se referir a importância deste irmão maior mas irmão, parafraseando o Manuel Lopes.
Com o golpe de Estado de 1926, o direito ao associativismo é vetado em Portugal e nas colonias e o racionalismo cristão em Cabo Verde é obrigado a refugiar-se nas catacumbas. Henrique Baptista e João Miranda os seus principais mentores em Cabo Verde, serão obrigados a fechar as suas casas racionalistas.
Foi em casa do professor João Miranda, na Rua de Coco em São Vicente, onde o jovem da época Amílcar Cabral chegou a residir, que este se iniciou na leitura do racionalismo cristão e que veio a marcar a sua obra política. . Expressões como "guia e luz" ou a ideia da criação dum homem novo são constantes nas obras de Amílcar Cabral herdadas da leitura racionalista feita em casa do João Miranda, pai do nacionalista cabo-verdiano, Lineu Miranda.
O Racionalismo Cristão assim surge como uma filosofia de libertação em Cabo Verde. São nas colonias de emigração a começar pelo Senegal ou nos Estados Unidos que renascem as primeiras casas racionalistas cristãos fora de Cabo Verde. Mas com a emigração para a Holanda e a possibilidade de visitar constantemente o Brasil onde os emigrantes podem visitar o Centro Redentor e obter livros para a sua formação e que também enviam para Cabo Verde ou para as comunidades emigradas que o racionalismo cristão vai-se impor dentro e fora de Cabo Verde em quase todas as famílias.
Com a Independência surgiu mais de seis casas racionalistas em São Vicente e em quase todas as ilhas aparecem cada dia novas casas racionalistas. Explicando sempre que não é uma religião mas sim uma doutrina filosófica, que foi coordenada por Luiz de Matos e Luis Alves Thomas sob a influencia astral do padre António Vieira, defendendo a reencarnação como etapa necessária da evolução do homem, deseja abrir-se à sociedade, aos leigos e não leigos, propondo mesmo que a doutrina seja ensinada e debatida nos liceus e outros fóruns culturais. A internet e a radio veio contribuir de maior forma a este debate tão necessário e que se impõe em todas as comunidades cabo-verdianas.
Roterdão, na Holanda, não somente resolveu os problemas económicos de Cabo Verde nos anos sessenta. Roterdão tem sido também o centro de todas as experiencias culturais e politicas da emigração Ao nível da musica, ao nível do associativismo ou ao nível do racionalismo cristão, tudo tem partido da Holanda desde os anos sessenta.
Falar da Holanda não somente nos lembra a construção de novas casas, da transformação da sociedade, mas também da Voz de Cabo Verde, do jornal Nós Vida e outras edições, da resistência ao partido único mas especialmente da implantação do racionalismo cristão na Europa, tanto em várias cidades da Holanda, França, Suíça, Luxemburgo, Suécia, etc. ; Esta visita do vice-presidente do Centro Redentor, constitui, nas palavras do Dr. Gilberto Silva uma homenagem aos cabo-verdianos na divulgação do racionalismo cristão no Mundo.
O Dr. Gilberto Silva esteve também em Paris nas casas racionalistas onde destilou lições sobre a amizade, a fraternidade e a modéstia que exigem o racionalista cristão, que não serão facilmente esquecidas. Aqui em Paris, embora num curto espaço de tempo, pode visitar a cidade, conceder uma grande entrevista à Radio France Internacional que será transmitida na quarta-feira, 15 de Março e almoçar com o nosso Embaixador de Cabo Verde, Dr. José Armando Duarte.
Na Holanda o Vice-Presidente no dia 11 de Março na festa de comemoração do 15° aniversario da Casa Racionalista Crista dirigida pelo Sr. Vitorino Chantre que tem sido um verdadeiro apóstolo da divulgação do racionalismo crestão na Europa, abrindo varias casas racionalistas em todos os lugares e formando a maioria dos seus dirigentes.
Viajou no dia 12 de Março para Portugal e segue para Cabo Verde no dia 17 Março onde vai visitar as casas racionalistas de São Vicente, Santiago, Boavista e Sal. Lamentamos que não faça uma visita ao Paul na Ilha de Santo Antão, que possui uma das mais antigas casas racionalistas em Cabo Verde.
A presença do Dr. Gilberto Silva nas comunidades racionalistas em Cabo Verde e na sua emigração foi duma grande contribuição e esperemos que d'agora para o futuro essas visitas possam ser mais constantes para dar indicações, afastar divergências e traçar novas metas para o racionalismo cristão.
Veio, nas suas próprias palavras, homenagear os cabo-verdianos emigrantes pelo seu papel importante na divulgação do racionalismo pelo Mundo. E vai a Cabo Verde também homenagear o povo cabo-verdiano pela sua adesão a esta filosofia que não pede nada a ninguém e que se predispõe pela lei do pensamento positivo a responder à todas as preocupações do homem. O seu jornal A Razão ou ou o sito internet www.racionalismo-cristao@org.br/ permitem aos cabo-verdianos de refazer a sua educação e de dialogar sobre vários problemas de ordem material e espiritual.
Os cabo-verdianos emigrantes, mesmo durante este inverno, não poupam esforços em estar presentes nas sessões organizadas às segundas, quartas e sextas-feiras. E por isso merecem a nossa mais elevada consideração e respeito. E desejamos que esta visita do vice-presidente do Centro Redentor do Brasil encontre o melhor acolhimento e que se retire as lições necessárias para continuar a lutar e a viver na emigração para enriquecer a nação Cabo-verdiana.
Os nossos políticos deviam se inspirar desta filosofia que se preocupa simplesmente em servir a Nação Onde há ódio encontrarão a amizade e a fraternidade, onde há diversidade encontrarão uma grande riqueza, porque na honestidade todos os caminhos vão à Roma.
Esperemos que no Cabo Verde real, os Municípios, o Governo, as forças vivas da Nação, se dignem receber dignamente o irmão maior Gilberto Silva, que em nome do Presidente Perpetuo Humberto Machado, vai homenagear o povo cabo-verdiano.
Visita a Cabo Verde do Dr. Gilberto Silva
Presidente em exercício do Racionalismo Cristão
Cabo-verdianamente,
Luiz Silva — Paris — 13-03-06
Fonte:
http:// www islasdecaboverde com.ar/islas de cabo verde /noticias/ 1_visita_a_cabo_verde_do_dr_gilberto_silva_vice_presidente_d.htm
http:// www racionalismo-cristao.org.br/gazeta/diversos/cabo-verde.html