O Mar!
Cercando prendendo as nossas Ilhas!
Deixando o esmalte do seu salitre nas faces dos pescadores,
roncando nas areias das nossas praias, batendo a sua voz de encontro aos montes,
… deixando nos olhos dos que ficaram a nostalgia resignada de países distantes …
… Este convite de toda a hora que o Mar nos faz para a evasão!
Este desespero de querer partir e ter que ficar! …
— Poema do Mar, Jorge Barbosa

Luiz de Mattos em plano físico

Entre os grandes vultos da humanidade que deixaram na Terra traços luminosos da sua passagem, a figura marcante de Luiz de Mattos ocupa uma posição de singular relevo.

Espíritos da categoria do fundador do Racionalismo Cristão só podem vir a este mundo para desempenhar importante compromisso contraído no Astral Superior.

Para uns, o encargo é singelo, para outros, mais complexo, porém, para alguns raros, é árduo, e projeta-se além das fronteiras da pátria, estendendo-se pelo mundo.

Luiz de Mattos nasceu em Portugal no dia 3 de janeiro de 1860 e faleceu em 15 de janeiro de 1926, no Brasil, fazendo do seu viver uma trajetória luminosa. Trouxe para executar, quando por aqui esteve, grandiosa tarefa espiritual destinada a transpor os limites continentais, e viveu o tempo necessário para que seu idealismo fosse implantado com segurança no planeta, em cumprimento do dever que o fez vir à Terra, passando de livre-pensador a convicto espiritualista.

Possuía, no mais alto grau, qualidades humanas cultivadas pelos seres conscientes. Foi exemplo de bondade, de firmeza, de honradez e de bravura ─ atributos que só os espíritos evoluídos possuem. Por isso modesto, era categórico ao afirmar que o livro intitulado Racionalismo Cristão, obra essencial da doutrina racionalista cristã, pertencia ao Astral Superior, sendo tão-somente o seu codificador, a serviço das Forças Superiores.

Como chefe, soube fazer-se respeitado e amado, com a superioridade das suas maneiras pessoais distintas, de tolerância e de estímulo. Todos os bons, os compreensivos, os que não cultivavam a inveja e a mentira não escondiam o bem imenso que lhe tributavam.

Luiz de Mattos distribuiu, a mancheias, o seu saber e o calor da sua alma forte e generosa, e não conheceu os deslizes depreciadores que se encontram em caracteres vulneráveis que se desmerecem nas posições que ocupam.

Homem de atitudes, de ação e de princípios, soube engrandecer, com seu nome e o extraordinário valor de que era dotado, a pátria que lhe serviria de túmulo, o Brasil, à qual tudo deu de melhor, numa vida de lutas e de glórias, de esperanças e de realizações, de gestos largos e de imensurável altruísmo.

Humanista por excelência, Luiz de Mattos foi considerado polêmico, porque defendia causas sociais de extrema importância para os seres humanos. Era abolicionista, republicano e espiritualista. Combatido e criticado, nada temia, pois não combatia pessoas. Defendia idéias.

Ensinou que o espírito não tem cor, raça ou sexo. O ser humano ao nascer tem como meta a evolução espiritual, e, para essa conquista, deve ter direitos iguais. Assim sendo, era necessário que houvesse igualdade de oportunidades para todos. Esse era o ideal de Luiz de Mattos, a razão de sua luta gigantesca. Entendia que a evolução somente se daria pela prática do espiritualismo autêntico.

Em todas as suas atividades distinguiu-se, sempre, pela ponderação, pelo critério, pelo acerto das proposições firmadas em segura base e ditadas pelo equilíbrio da sua orientação racional.

Mestre dos mestres, impôs-se pelo poder da sua eloqüente e concisa oratória, pela sabedoria dos seus conceitos vazados em conhecimentos originais de alta transcendência. Suas opiniões apresentavam-se de tal modo inspiradas que serviam de roteiro, até mesmo, a supremos dirigentes do Brasil.

As obras que deixou, os seus memoráveis escritos, a sua famosa "Notas", coluna do jornal A Razão, que fundou em 1916 juntamente com Luiz Thomaz, são fontes perenes de inspiração para novas produções e normas de viver que todos devem seguir, além de advertências enérgicas e úteis para os que desejam acertar nas experiências diárias e na marcha pelo torvelinho da vida. O jornal tornou-se instrumento hábil na divulgação dos seus ideais, sempre com a preocupação de valorizar o ser humano esclarecido, honesto, lutador, voltado para o cumprimento dos deveres.

Jornalista emérito, militou na imprensa com disciplina equilibrada, sadia, construtiva e enaltecedora das virtudes humanas. Sua pena vigorosa esteve sempre a serviço dos oprimidos, com o desejo de vê-los recuperados e integrados no seio da coletividade, de posse das legítimas reivindicações conquistadas.

Desprendido de bens materiais, jamais se deixou seduzir por eles, o que importava em poder usar de liberdade plena em suas admoestações. Revelou-se um educador esmerado em jornalismo, em que deu sempre exemplos de honorabilidade, de envergadura moral e de amor à verdade, com profundo respeito pela opinião dos seus opositores, tanto que, fazendo do seu jornal uma tribuna livre, punha-o à disposição, para publicação gratuita, da contestação que desejassem fazer dos seus escritos.

Espírito profundamente liberal e democrático, como jornalista expunha, com exemplar coragem e, muitas vezes, temerariamente, suas idéias, sem as impor a ninguém; era autêntico paladino do debate, por achá-lo indispensável ao esclarecimento do povo.

Escusado é dizer que, por estar permanentemente apoiado na verdade espiritualista, com a qual fazia sua trincheira, sempre levava a melhor em todas as campanhas que empreendeu.

Os opositores, faltos de argumentos, abandonavam o campo de luta, ao cabo das primeiras escaramuças, e o grande público leitor do jornal testemunhava, entusiasmado, as vitórias sobre vitórias do bravo lidador, a quem não regateava o aplauso e o estímulo.

Luiz de Mattos sobressairá, sempre, para seus admiradores, como uma das mais vivas e generosas fontes de inspiração.

Seus exemplos de vida luminosa, dedicada ao bem da humanidade, jamais serão esquecidos.

Em forma astral, pode ser concebido como grande e reluzente estrela, a desfazer, com o clarão dos seus raios, as sombras do desconhecimento espiritual — única maneira de transformar o mal em bem, a pobreza em riqueza e a obscuridade em luz.
 
 
Doutrinação de Luiz de Mattos
 
Quando sentirem o ânimo fraquejar, quando perceberem que a vontade se abate e o desânimo tenta envolvê-los, elevem o pensamento, desprendam-se de tudo que possa perturbá-los e procurem, dentro de si mesmos, a serenidade, a paz e a conformação de que carecem, para enfrentar e suportar as vicissitudes da vida.

Não há quem não tenha reveses, desilusões e sofrimentos neste mundo. Para alguns, os resgates são mais leves. Para outros, entretanto, são mais pesados, por serem maiores as dívidas espirituais contraídas em existências passadas, ou pelo mau uso do livre-arbítrio na atual.

De qualquer maneira, todos têm o dever de enfrentar reveses e saldar dívidas, sem revolta, sem protesto, sem indignação.

Um espírito esclarecido e de vontade forte encara a vida com realismo, só esperando aquilo a que faz jus por seu esforço, por seu trabalho, por sua luta, portanto, o merecimento pelas ações que pratica.

É ilusão, é puro engano pretenderem que a vida terrena seja, apenas, de compensações e alegrias. Isso não é possível, nem o admitem os que têm noção da dinâmica evolutiva. Basta considerarem que não há progresso sem luta, e atentarem para o fato de que toda luta origina sofrimentos, que o ser humano tem o dever de esforçar-se para vencer, ou atenuá-los com vontade forte, voltada sempre e unicamente para a prática do bem.

A vontade consciente e fortalecida por seu exercício constante constitui-se numa força do mais alto poder. Pena que os seres humanos não tenham sempre presente essa grande verdade.

Os ensinamentos do Racionalismo Cristão são de solar clareza. Quando postos em prática, levantam, podemos assim dizer, corpos e espíritos.

Caminhem pelas amplas estradas da vida com passo firme e fronte erguida, e não se deixem abater diante dos obstáculos que tiverem de enfrentar. O abatimento é incompatível e inconciliável com o esclarecimento espiritual. Seja qual for a intensidade do golpe, sejam quais forem os vendavais morais, o ser esclarecido tem o dever de tudo enfrentar, valorosamente, corajosamente, para poder sair vitorioso e engrandecido dessas lutas.

O mundo é dos fortes. Mas não pensem que nos referimos aos fortes do físico. A verdadeira fortaleza é a da alma. Não alimentem ilusões: o mundo é dos que possuem fortaleza de ânimo e valor espiritual.

Todos sabem que na grande escola, que é o Racionalismo Cristão, não há lugar para abrigar fraquezas. O que devem cultivar são o sentimento de confiança em si mesmos e a capacidade para a luta, e dela saírem vitoriosos.

É o que procuramos fazer compreender aos que vêm às nossas Casas. Outra não é a finalidade da insistência com que recomendamos a leitura dos livros editados pelo Racionalismo Cristão, por ensinarem a pensar e a raciocinar, para que aprendam a separar o joio do trigo, adquirindo personalidade espiritual suficientemente forte, para dominar e vencer as muitas e constantes intempéries da vida.

Observamos, porém, que são muitos os que se negam à reflexão sobre os ensinamentos que colocamos ao seu alcance, e, não raro, interpretam erradamente os salutares princípios da nossa Doutrina. Devemos advertir sobre essa tendência, para não incidirem no erro. Os ensinamentos do Racionalismo Cristão, por sua notável clareza, pela singular objetividade do seu conteúdo e pelos benefícios que prestam, precisam ser levados a sério.

O ideal seria que em todas as cidades do mundo existissem casas racionalistas cristãs com portas abertas para receber toda gente, de todas as categorias sociais, das mais humildes às mais poderosas, materialmente falando, já que nos planos espirituais não há poder que não resulte da evolução do espírito, e que não seja aplicado exclusivamente para o bem.

Como tal não é possível, pelo menos por enquanto, por falta do elemento mais precioso e indispensável, que é o ser humano, simples, desprendido e desejoso de contribuir desinteressadamente para o bem da humanidade, continuem a receber, nas que já estão abertas, os que a elas chegarem, dispensando-lhes o mesmo respeitoso e afetuoso trato, dentro das normas de educação e civilidade, que devem fazer parte dos hábitos dos racionalistas cristãos.

Muito embora saibamos que os seres humanos estão, na sua maioria, longe ainda de alcançar a fase evolucionária representada pelo primado do espírito sobre a matéria, os esclarecidos sobre a espiritualidade têm o dever de formar correntes de pensamento elevado, propugnando pela paz e pelo bem geral da humanidade, ainda que compreendam que a concretização desse ideal depende do entendimento espiritual da vida.

Não poupem esforços para se manterem sempre lúcidos, porque só com lucidez o ser humano tem condições de cumprir seu dever.

Revoltas, conversas inflamadas, discussões e rebeldias do espírito só podem causar angústia, descontrole, perturbação e obsessão.

A pessoa que com freqüência se revolta, mais dia menos dia, fica obsedada. Quando homens e mulheres compreenderão a necessidade de serem honestos e espiritualizados?

Aos esclarecidos pelo Racionalismo Cristão causa profunda decepção observar a maneira incorreta como pessoas inteligentes se conduzem, supondo que existem segredos no mundo espiritual, que as mazelas que praticam ficam escondidas. Puro engano! Ao mundo espiritual nada escapa. E mesmo no plano físico, mais hoje mais amanhã, todas as ações erradas acabam por ser descobertas.

O progresso, tanto espiritual como material, se faz pelo estudo, pelo trabalho e pela compreensão da vida. Por isso, evitem discussões, atentados contra a ordem e a vontade da maioria, e fujam de distúrbios, que somente males ocasionam.

O respeito e a dignidade de um povo estão na sua civilização, e não, e nunca, na dissolução dos costumes, na licenciosidade, na revolta e na desordem. Desordem gera confusão, e esta impede o progresso.

Todos são livres para pensar como entenderem. Os que estão, porém, a serviço do Racionalismo Cristão, têm deveres maiores e, entre eles, o de raciocinar muitíssimo, para evitar o cometimento de erros, dos quais terão, mais tarde, de arrepender-se.
 
Fonte:
http://www.racionalismo-cristao.org/biblioteca-digital.html - Livro Prática do Racionalismo Cristão - 13ª edição - Rio de Janeiro – 2009


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