O Mar!
Cercando prendendo as nossas Ilhas!
Deixando o esmalte do seu salitre nas faces dos pescadores,
roncando nas areias das nossas praias, batendo a sua voz de encontro aos montes,
… deixando nos olhos dos que ficaram a nostalgia resignada de países distantes …
… Este convite de toda a hora que o Mar nos faz para a evasão!
Este desespero de querer partir e ter que ficar! …
— Poema do Mar, Jorge Barbosa

Tributo à Cesária Évora

CESÁRIA ÉVORA OU CIZE, como te quiserem chamar, em nós deixaste uma saudade imensa, saudade, porém, amenizada pela herança que nos deixaste.


Muitos pensam que herança que satisfaz qualquer criatura tem que ser material e correm atrás de familiares, amigos e não só, buscando estarem presentes no momento da divisão dos bens.

Tu nunca tiveste essa "riqueza" que todos anseiam, mas, estou certa que todos nós que te admirávamos pela tua doce voz, voz sentida na morna cantada com amor, nostalgia, com a alma do poeta que vê nas nuvens, no horizonte, nas gotas de orvalho caídas, no nevoeiro, aquilo que a outros passa despercebido, somos os herdeiros, de teus preciosos bens, sem guerras, sem altercações, sem gritos ou ameaças. Apenas sorriremos, enquanto lágrimas de saudade nos rolarem rosto abaixo.

Quantas recordações nos vêm à memória, sem tu sequer teres tido delas conhecimento. Cada um dos que te admiraram, têm um dia, um momento, algo ligado a ti em suas lembranças, por mais remotas que sejam.


Tantos de nós que, na nossa juventude, amámos nossos companheiros ao som de tua voz, dançando, conversando sentados numa sala ou andando admirando a natureza ao lado do ser amado.

Muito nos destes e em saudade te retribuiremos.

Jamais te esqueceremos e para a posteridade, para nossos filhos, netos, amigos, deixaremos essa herança que nos ofereceste através de teus discos, nossas fitas gravadas de Rádio ou TV, teus cd's, teus dvd's, enfim, atravessando mais de meio século, tivemos oportunidade de acompanhar a evolução, usando novas técnologias.

Sempre te admirei, e, muito especialmente quando, como "renascida das cinzas", te ergueste com toda a força, para uma nova vida, deixando para traz uma vivência que te machucava.

Tornaste-te na "Diva dos Pés Descalços", na "Embaixatriz da Música Caboverdiana", e, assim deste a conhecer ao Mundo, todo um povo sofrido que, na alegria da música aplaca seus sofrimentos e arranja coragem para lutar, aguentando as vicissitudes da vida.

Por tudo isso todos te deveremos agradecer.

Agora é hora de partires para teu mundo próprio e deixares teu espírito avaliar, com real consciência, o teu percurso enquanto encarnada neste planeta Terra

Nossas vibrantes irradiações te acompanharão e como artista que foste, serás acompanhada por nossas palmas vibrantes, mesmo que imaginariamente.

Tua admiradora, tua irmã em essência,
Aida Luz
Em 17 de Dezembro de 2011, dia de sua desencarnação.

27 / 08 / 1941 - 17 / 12 / 2011

Cesária Évora começou sua carreira cantando em Mindelo, na ilha de São Vicente, há mais de 45 anos. Com apenas 20 anos, ela cantou os amores que a derrota e o isolamento das ilhas de Cabo Verde evidenciado pelas extraordinárias gravações da época, reeditado no final de 2008 sob o título “Radio Mindelo".
Entrincheirados em uma saudade de apelo universal, a melancolia continua a ser a marca de Cesária Evora.
Se ela canta, sua voz, inexoravelmente, leva o ouvinte a canções cativantes feita para dançar ou mornas, e aos blues cabo-verdianos. Três anos depois do Cabo "Rogamar" a cantora-verdiana regressa com "Nha Sentimento", um álbum que é ao mesmo tempo grave e luz.
Fonte:
www.cesaria-evora.com


















Sentimento
- Fotomontagem criado por Nkrumah Lawson-Daku sobre o Sentimento




Mais sobre a vida de Cesária Évora

Cesária Évora viaja aos anos 60 em “Rádio Mindelo”


“Rádio Mindelo” é a mais recente compilação de Cesária Évora no mercado. São mornas e coladeiras que Cize gravou em fita magnética na antiga Rádio Barlavento, na ilha de S. Vicente, nos anos sessenta, e que agora é editada em CD.

É dessa época inicial da sua carreira que a diva dos pés descalços fala nesta entrevista. “Rádio Mindelo” é um registo precioso, que se encontrava perdido, que fala de um Mindelo ingénuo, alegre, captado pelas “antenas” de trovadores como Ti Goi, Frank Cavaquinho, etc. Um tempo que Cize recorda com muitas saudades.
por: Teresa Sofia Fortes

→ Pelas mãos de quem se deu a sua entrada na Rádio Barlavento, para gravar nos idos anos 60? Ti Goy?
Não, foi o Sr. Luís Carlos. Na altura quem me acompanhava nas minhas actuações era o Ti Goy e o Careca. A todos os lugares onde eu ia cantar, nomeadamente o Grémio, eles me acompanhavam. Assim, quando recebi o convite para gravar na Rádio Barlavento, foram eles a acompanhar-me.

→ Como reagiu ao convite para essas gravações?
Estava acostumada a cantar em bares, restaurantes e navios estrangeiros que aportavam ao Porto Grande de São Vicente. Por isso, reagi com normalidade ao convite. Mas é claro que gostei.

→ Como foi a experiência de entrar pela primeira vez num estúdio aos 20 e poucos anos, para gravar?
Estava rodeada de meus amigos e companheiros das lides musicais. Por isso, senti-me à-vontade e gravámos sem problemas.

→ Quando ouviu a sua voz na Rádio Barlavento como reagiu?
Quando escutei a minha voz pela primeira vez achei um pouco estranho. Mas à medida que escutava sentia-me bem, contente por estar a ser ouvida por toda a ilha de S. Vicente. Com o passar do tempo isso tornou-se normal para mim.

→ Diz o jornalista Carlos Gonçalves que Cize era a “pérola” de Ti Goy. Como era conviver com o Ti Goy, que é tido como um dos melhores compositores de coladeiras de todos os tempos?
Eu e o Ti Goy conhecíamo-nos bem. Ele e o Careca acompanhavam-me nas actuações em casas particulares, nos navios, em todo o lado. Éramos amigos e tinha (e ainda tenho) um imenso prazer em cantar as músicas dele. Mas eu também cantava acompanhada por Frank Cavaquim e Luís Rendall, duas outras grandes figuras da nossa música ainda hoje.

→ Era a Cize que escolhia as músicas ou Ti Goy?
Muitas vezes, ele trazia-me músicas; outras vezes, eu sabia de alguma e compartilhava com ele. Escolhia aquelas de que eu gostava, cuja letra me dizia alguma coisa e cuja melodia era do meu agrado. Ensaiávamos, interpretávamos nas actuações públicas e gravávamos na Rádio Barlavento. Era tudo ao vivo, sem grandes meios, bastante diferente do que acontece agora.

→ Na época, segundo sei, pagavam-lhe 25 escudos por cada gravação, é verdade?
Sim, é verdade, pagavam-me 25 escudos por cada música gravada. Cheguei a gravar oito músicas num só dia e recebi 200 escudos! Outras mulheres também gravavam – Arminda Santos, Mité Costa, Titina Rodrigues –, mas não sei se a elas pagaram. Também gravei no Rádio Clube do Mindelo, mas ali nunca me pagaram.

→ O que dava para comprar com esse dinheiro?
Muita coisa. Naquela época a vida era mais barata e com 200 escudos dava para resolver muitos problemas. Mas agora … As coisas mudaram (risos). Completamente!

→ No Museu de Arte Tradicional, onde em tempos funcionou o Grémio Recreativo li que naquela agremiação só entravam os sócios, gente conservadora e da elite do Mindelo. Como reagiam quando Cesária Évora cantava as mornas picantes do Ti Goy?
Era muito interessante. O Lulu Marques convidou-me e à Arlinda Santos e outra cantora cujo nome não me recordo (talvez a Mité Costa) para actuar no Grémio Recreativo quando chegou ao Mindelo a comitiva de uma escola de Coimbra.

Naquele dia, o Lulu Marques decidiu comprar-me uns sapatos. Disse-lhe que não queria calçá-los. Mas ele insistiu e aceitei. Fomos à loja do Sr. Neves onde me ofereceu uns sapatinhos pretos. Fui ao Grémio Recreativo com os meus sapatos novos, mas estava pouco à-vontade. Quando chegou a minha vez de cantar, sentia-me pouco à-vontade.

Uma senhora, cujo nome não sei, mas creio que era a directora da tal escola de Coimbra, perguntou-me se me estava a sentir bem. Então, confessei-lhe que não queria usar aqueles sapatos. Ela respondeu-me: se quiser cantar descalça esteja à vontade. Tirei os sapatos e cantei. Mostrei ao Lulu que naquele momento quem mandava era eu, pois as pessoas tinham ido lá para me ouvir cantar. E, afinal, nasci descalça.

→ Não gosta de usar sapatos?
Não, mas não é nada disso. Apenas não gosto que me obriguem a fazer coisas de que não quero.

→ Naquela época Cesária gravou um disco pela Casa João Mimoso. Como foi?
O povo gostou, pena que o João Mimoso não me pagou. A OMCV também não me pagou quando gravei o disco «Mar Azul», em 1985. Isso só veio a acontecer mais tarde. Depois, fui com o Bana para Portugal, em 1987, e gravei ali quatro discos.

→ Apesar de ter gravado esses discos, Cize, ao contrário de outros artistas, não conseguiu grande projecção. Porquê?
Ora, naquela época ainda não tinha o “meu” produtor junto de mim, o Djô da Silva, que Deus pôs no meu caminho. Ele levou-me para França e deu um grande impulso à minha carreira que é hoje aquilo que todos vêem.

→ Djô da Silva é então muito importante para si?
Com certeza!

→ Carlos Gonçalves diz num artigo sobre si que “o sucesso que Cesária conquistou é uma vingança do destino e uma vitória da música cabo-verdiana”. Concorda?
Sim. Durante muito tempo trabalhei, porém, não fui reconhecida nem recompensada. Graças ao Djô da Silva, em 1987, fiz a primeira actuação em França, despertei a atenção da comunicação social e aqui estou hoje com o meu «Grammy» e os meus discos de ouro conquistados em vários países.

→ O que achou da ideia do Djô da Silva de editar em CDs os êxitos que cantou e gravou na Rádio Barlavento e que estavam esquecidos no arquivo da Rádio de Cabo Verde em S.Vcente?
Gostei imenso da ideia. O CD é uma recordação dos meus primeiros anos de carreira que vou guardar com muito carinho.
Fonte:
http: / / www asemana publ.cv/spip.php?article3800

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MAIS INFORMAÇOES SOBRE CESARIA ÉVORA

SUA DESPEDIDA 21 de outubro de 2011

CESARIA ÉVORA, O ADEUS AO PALCO E O REGRESSO DE UMA LENDA

«Mim já’m bá pa nha terra »

« Sexta-feira», disse entrelaçando os dedos, um olhar de menino encabulado. E carregou : – « se Deus quiser! »

Sexta-feira, 21 de outubro. Todos os argumentos foram poucos para convencer a Cise a atardar-se ainda algum tempo em Paris – simples precaução depois desse grande solavanco que a levou de urgência, sem fala e quase sem fôlego, ao hospital La Pitié-Salpétrière. No primeiro dia deu água pela barba ao corpo médico que chegou a t(r)emer pela sua sobrevivência. Graças a Deus o pior também foi curto – uff!

De coração generoso, quem a conhece sabe que nunca foi de muitas falas, a Diva dos Pés Descalços. No palco canta e encanta, mas falar, nem por isso. Agora, não convém provocá-la: « Sabes, Cesária, que és a voz das as mulheres sem voz ? » E ela : - « Ah ! psuda !, mim nha voz ê d’meu! ». E outra vez : que mensagem tinha a passar às mulheres japonesas ? - « Ês bá desinrascá ! »

Nem mais. É assim a Cise : se a sua humildade faz o seu charme, que dizer desse seu humor natural com que empolgou palcosd e plateias? Com os amigos, Cise deixa falar o coração. Agora, se for para convencê-la de alguma coisa, melhor mesmo é passar ao largo! «Cis txa’me bá pa nha terra » - e ninguém fala mais nisso!

Se existe uma pessoa que funciona ao « feeling », essa pessoa é Cesária Évora. Autêntica e sincera, suas francas gargalhadas têm essa espontaneidade de criança que às vezes nos falta a nós-outros, submetidos que vivemos à ditadura da aparência que a vida em sociedade cruelmente nos impõe.

Uma mulher de carácter, ou a força da humildade.

Mas não nos iludam as aparências ! Por trás dessa inocente serenidade existe uma mulher de pulso e de carácter, impondo-se por essa rara virtude que é a humildade, paradoxalmente o segredo e a fonte da sua força. Conta quem sabe que essa força « inocente » pode traduzir-se em caprichos nem sempre muito fáceis de gerir… disso falarão aqueles que, por razões profissionais ou afectivas, estejam investidos dessa missão. Na tarde do seu último domingo em Paris, no lar familiar onde se instalou para convalescer, ainda veio à baila, assim muito a medo pa’l ca bá chatiá, se não seria melhor esperar mais um pouco, o que achas Cise, antes de regressares de vez a Cabo Verde… E a mesma resposta categórica: - «Já m’crê bá’mbora, m’ca tem más nada k’fazê li». Traduzindo : a dúvida ao seu dono , eu cá já decidi. E ponto final!

Escusado insistir. Nem mesmo a Fantcha, jovem cantora nossa, uma espécie de filha espiritual vinda para a ocasião da América, logrou ir mais longe. Uma amiga segreda-me ao ouvido, a propósito de uma feliz e inesperada visita : - « Um belo dia, ligou-me que ia a caminho da minha casa… quando au já desesperava de a convidar sem resultado ! Cise não se convida, é deixá-la que vem sozinha ».

Caprichos de star?

Nada disso, Cise é assim mesmo! Nos anos oitenta, era ela uma cantora do Mindelo como tantas outras, e eu, jovem jornalista da Rádio, lembro-me ainda: o que não suávamos para conseguir levá-la ao estúdio para uma entrevista! Melhor mesmo era ter à mão uma alternativa para a emissão, sabendo que tanto podia vir como não!

Mas caprichos de star, isso nunca ! Quanto mais não seja porque Cesária não era star nessa altura e sequer sonhava vir a sê-lo. E se hoje é quem é, nem por isso deixou de ser quem era! Por mais que falem dela em jornais e livros, que por onde passa as pessoas se extasiem e lhe estendam o tapete vermelho, Cesária nunca entrou na pele dessa vedeta planetária que ouve dizer que é! Tirando as rugas do tempo e os adornos em ouro que sempre afeccionou – e isso é muito caboverdeano, – quem a viu há 30 anos, assim a vê agora : igual a si mesma, fiel aos seus hábitos e aos amigos de sempre. Assim o enfatizou Christine Albanel, ministra da Cultura, ao outorgar-lhe, em nome do Presidente da República Francesa, a Legião de Honra em 2009 : « Ni vos nominations aux Grammy awards, ni vos Discs d’or, ni la présence de Madonna aux premiers rangs de vos concerts new-yorkais n’ont réussi à entamer votre authenticité, votre vérité qui ont forgé votre succès ».

Com essa mesma simplicidade, agora inspirando alguma emoção por causa da doença, fomos encontrar a Cise no seu leito de hospital, eu e mais o encarregado de negócios António Lima. Éramos portadores de uma mensagem de Sua Excia o Presidente da República, Dr. Jorge Carlos Fonseca, que ela agradeceu, comovida quanto baste mas nem por isso envaidecida. Tampouco se envaidece de ter recebido uma carta do presidente Sarkozi.

Cesária é simplesmente única. E as honras, cuidado porque, se mexem com ela, até as declina! Quem não se lembra do avião que ia levar o seu nome mas que ela recusou ir baptizar por, numa das suas viagens, lhe terem faltado as suas bagagens no desembarque?! Fez finca-pé, disse que não ia - e não foi!

Para os amigos, aqueles que convivem de perto com a Cise ou a frequentam na sua casa em S. Vicente, a coisa é outra : cachupada, bom humor, cavaqueira descontraٌída.
Visitar a Cesária, verdadeira « peregrinação » para certos fãs, é impregnar-se da morabeza caboverdeana. Aqueles que conheço regressaram embevecidos com a simplicidade dessa vedeta mundial de lenço e avental, servindo seus convidados como Cristo lavando os pés aos apóstolos! Para os franceses (e não só), Cabo Verde é Cesária : quem não teve a felicidade de a ouviu cantar, decerto ouviu falar. Que resida em part-time na cidade-luz, seu « port d’attache » de onde partiu um dia à conquista do mundo com o seu canto mágico, é motivo de orgulho para eles.
Um exemplo para seguir e reflectir!

A cada geração, seus filhos dilectos. Nossos filhos dirão que tivemos sorte em sermos testemunhas dessa formidável « victoire du talent sur la fatalité ». Não vou aqui recapitular este destino singular, ao mesmo tempo singelo e palpitante, que já deu tantos livros biográficos e que certos fãs já conhecem de cor. Para as gerações vindouras fica este legado vivo, gravado em vinil e não sei quantos CD’s e outros tantos sucessos, a testemunhar que foi essa grande senhora, discreta e sem título, quem tirou Cabo Verde da penumbra do anonimato!

Sirva de exemplo às gerações vindouras…

E de lição aos deuses do Olimpo ! Que a vanglória de mandar não prime sobre o amor à terra daqueles caboverdeanos que carregam no ombro a bandeira desta grande Nação sem nada pedir em troca! Reflictam aqueles políticos e governantes que, carregados de títulos e brasões (de grandeza mais que de obra feita), andaram gaguejando pelo mundo (quando não entraram mudos e sairam calados!) enquanto Cesária e seus músicos seduziam multidões ! Que agora, no regresso à casa após ter bebido nos oásis do mundo que lhe abriram as portas, meditem aqueles que lhe recusaram uma caneca d’água quando, sozinha, atravessava o deserto das agruras da vida! Que a nossa « gente grande » se acalme na sua soberba, que a história não é feita somente de títulos e de poder, que estes vão passando, mas sobretudo de valores que perduram na mem.

Uma reforma bem merecida!

« Si ca bado ca ta birado ». Cumprida esta profecia de Nhô Eugénio, o poeta, e após ter frequentado « la cour des grands », é chegada a hora da reforma. Bem merecida é ela após uma vida inteira a cantar Cabo Verde e metade dela a levar Cabo Verde ao Mundo.

Porque conquistar o mundo, Cise, convenhamos, é dose para leão. Lembras-te ? Entre as voltas que o mundo dá e as voltas que deste ao mundo, em 2008 já o coração havia acusado um primeiro choque : por pouco ia parando lá pela longínqua Austrália, nas antípodas do « Mindelo, nôs querido cantim ». Estoica te ergueste e continuaste a caminhada. Mas agora, descansá bô corp, vivê bô vida sem stress. E por favor, tmá bôs ramêd e largá kel cigarrim da mon. Kês “matutano” tambê. Sabes que ainda tens muito para dar : deixaste as tournées, que isso de andar pelo mundo não é brincadeira, mas sempre poderás, porque não, voltar aos palcos uma vez por outra. Os teus admiradores hão-de gostar e Cabo Verde agradece. Afinal, Cise, és a nossa bandeira. És um padrão a assinalar ao mundo inteiro que no meio do Atlântico existe um arquipélago com gente e com alma, que não apenas um produto exótico para consumo turístico e « outros » consumos para quem dá mais.

Se acaso não merecesses o nosso carinho, ainda te devíamos a gratidão. Bom descanso na Tapadinha.

Mantenhas da Terra-longe, 21 de outubro de 2011
David Leite