O Mar!
Cercando prendendo as nossas Ilhas!
Deixando o esmalte do seu salitre nas faces dos pescadores,
roncando nas areias das nossas praias, batendo a sua voz de encontro aos montes,
… deixando nos olhos dos que ficaram a nostalgia resignada de países distantes …
… Este convite de toda a hora que o Mar nos faz para a evasão!
Este desespero de querer partir e ter que ficar! …
— Poema do Mar, Jorge Barbosa

Povo de São Nicolau, Não Deixem a Chama Morrer

 Sanicolaenses, povo heróico, que com pedras, paus e ferro,
Combateu os Drakes e Hawkins, piratas ao serviço da Rainha,
Que os coroou com o título de “SIR”, título mais alto da marinha,
Em troca do ouro – urzela, e doutros bens, que extorquiam aos nossos antepassados.
 
 
 Não deixem a chama morrer!

 
Sois um povo culto e estóico, demonstraste-lo na “saída”
Do Porto Lapa para a Ribeira Brava. A doce Vila da Ribeira Brava,
É brava e heroína por natureza, qual baluarte, os factos o confirmam,
Foi realmente brava de – quatro costados – formada pelas encostas,
Que lhe deram o nome. Como mãe amantíssima acolheu seus filhos
Que, fugindo do inimigo, procuravam ponto de abrigo.

Não deixem a chama morrer! 

Filhos de São Nicolau, sois heróis, porque fostes destemidos;
Continuai a defender com garras, unhas e dentes a cultura
Centenar, que é vossa, já lá vão cinco séculos e meio.
São Nicolau foi encontrada em 06 de Dezembro de 1461, pelos
Navegadores portugueses: Diogo Gomes e António Noli.
Data magistral, porque a do nosso “nascimento”.
Ribeira de Caixa, é histórica também: ela é que foi o guardião
De malas, sacos e bolsas que continham utensílios dos nossos
Antepassados, corridos do Porto Lapa. 

Adolescentes, jovens, maduros e idosos, povo em geral,
Sóis o óleo dessa chama Centenar, que se chama Cultura.
 
Não deixem a chama morrer!

Intensificai-a com a vossa coragem e estoicismo.
O vetusto Seminário Liceu, a colenda Câmara Municipal e a Sé Catedral,
São museus que perpetuam no espaço e no tempo, o tamanho e a grandeza
Históricas desta ilha. São jóias queridas que deverão ser preservadas e
Conservadas para o pélago da eternidade! São o berço da Cultura cabo-verdiana;
São casas da nossa Cultura, assim como o nosso corpo é casa da nossa alma.

 Não deixem a chama morrer!

Seminário Liceu foi o berço da Cultura cabo-verdeana, denominado
– Atenas de Cabo Verde – donde saíram homens ilustres,
Cujo brilho continua a alimentar esta chama a que chamais Cultura.
Jovens e todos vocês que me escutais, sois o óleo que alimenta
A chama desta lâmpada imorredoira, a Cultura sanicolaense.
 
 
Povo de São Nicolau. Não deixem a chama morrer! 
Por Martinho de Mello Andrade
Militante da Filial Mindelo do Racionalismo Cristão, São Vicente, Cabo Verde