O Mar!
Cercando prendendo as nossas Ilhas!
Deixando o esmalte do seu salitre nas faces dos pescadores,
roncando nas areias das nossas praias, batendo a sua voz de encontro aos montes,
… deixando nos olhos dos que ficaram a nostalgia resignada de países distantes …
… Este convite de toda a hora que o Mar nos faz para a evasão!
Este desespero de querer partir e ter que ficar! …
— Poema do Mar, Jorge Barbosa

19 de setembro de 1893 - 130 anos da desencarnação de Dr. Custódio José Duarte - Por Wilson Candeias

O Dr. Custódio José Duarte nasceu em Vila Real de Trás-os-Montes, a 16 de junho de 1841, formou-se em medicina na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, defendeu sua tese em 1865, sobre “Responsabilidade médico-cirúrgica”, em seguida, entre 1865 e 1866 viajou para Cabo Verde, onde rapidamente, como médico tornou-se uma figura proeminente, local que se dedicou pelo resto de sua vida, e desencarnando em Mindelo, Ilha de São Vicente no dia 19 de setembro de 1893.[1]

A estratégica coincidência do Dr. Custódio José Duarte, ao iniciar sua carreira profissional entre 1865 – 1866, na deslocada e bucólica cidade de Mindelo, sem luz, sem água corrente, e, talvez o único médico local, pode-se dizer que dentro da ideia original do Padre Antônio Vieira, de que nada mais poderia sair errado, nos leva a pressupor que tanto o senhor Augusto Messias de Burgos, em seus primeiros momentos de vida, em 12-07-1868, como sua mãe, a senhora Isabel Messias de Burgo, mesmo havendo controvérsias sobre o local onde passou sua juventude, Ilha de São Vicente, ou na Ilha de Santiago[2] local de seu nascimento, mesmo assim apesar do médico Dr. Custódio José Duarte, ter como base a Ilha de São Vicente, provavelmente tinha como sua tarefa dar assistência nas demais ilhas, e isto o coloca de frente com um possível encontro com a família Burgos. Da mesma forma, pela comparação de datas, também podemos pressupor que a esposa do senhor Burgos, a senhora Rita de Cássia que nasceu em 22-05-1872, filha de Mateus Adrião Fortes e de Geralda Fortes, possivelmente também tenha sido assistida pelo Dr. José Custódio Duarte.

Na mesma sequência de raciocínio, também não se pode ignorar o Cônego António Manuel da Costa Teixeira que nasceu em 1865, na Ilha de Santo Antão e o senhor Henrique Baptista Morazzo, que nasceu em 06/11/1885, na Ilha de São Vicente.

Enfim, se desconhece as verdadeiras razões materiais que levaram o senhor Burgos a migrar ao Brasil no início do século XX, mas o real motivo de foro íntimo, de haver mergulhado com determinação na espiritualidade, sabia perfeitamente o que estava fazendo. Com certeza sabe-se apenas, que em sua humilde casa, foi médium de confiança de grandes espíritos, entre eles do Padre Antônio Vieira, e em obediência ao guia espiritual Dr. Custódio José Duarte, além de muitas curas, amenizou as dores e sofrimentos de muitos.

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Assim, embasado na ideia original do Padre Vieira, entre as pessoas beneficiadas pode-se citar ao senhor Luiz de Mattos curado de tuberculose,[3] e ao senhor Luiz Alves Thomaz de suas chagas.[4]

Ainda dentro dessa mesma premissa original do Padre Antônio Vieira, de que nada mais poderia falhar, logo, se pode refletir; Quem levou quem para Santos?[5

O surpreendente ato de descrever sobre os caminhos desses entes que se atraem entre si, tanto o Dr. Custódio como o senhor Burgos, o fato de deslocarem-se de seu torrão natal, e na sequência dos fatos, num outro país, num pequeno e humilde Centro Espírita, juntam-se com outros tão formosos seres num resplandecer de luz intensa: Antônio Vieira, Custódio José Duarte, Antônio Pinheiro Guedes, Luiz José de Mattos, Luiz Alves Thomaz e Augusto Messias de Burgos, dando-nos somente um caminho, de que o amor e a vontade perante a lei de atração nunca falham, dessa forma, nada mais poderia sair errado na implantação da luz da verdade espiritualizadora para enfrentar as trevas em que permanece a humanidade.

Ainda vale lembrar, que de acordo com o Site Hemero Teca Digital - Revista A Renascença, o autor Alexandre da Conceição publicou em julho de 1878; “os encargos da sua formatura em medicina foi uma irreparável desgraça doméstica, que o levou a marchar para Cabo Verde, e de lá mandava todo o seu dinheiro para sua mãe e seus irmãos”... “Em Custódio José Duarte há, porém, uma cousa superior ao seu talento poético: é a sua grandeza moral, é a sua austeridade intransigente do seu caráter, é a elevação daquela alma inesgotável em dedicações”. Em vista disso nota-se ser um espírito de extrema sensibilidade e amor ao próximo.[1]


Esse elo entre Dr. Custódio José Duarte e Augusto Messias de Burgos continuou após 1912, quando do afastamento do senhor Burgos do Centro Espírita que iniciou em sua casa na Avenida Rangel Pestana 79, que de acordo com “a família Burgos, relembram de que a senhora Rita de Cássia Burgos, esposa do senhor Burgos, sempre ensinou os filhos e netas que em horas de dificuldades deveriam “orar” ao espírito do Dr. Custódio José Duarte”, mas não parou por ai, mesmo assim depois de mudarem o local de residência para a Avenida Carvalho de Mendonça no bairro do Marapé, o senhor Burgos continuou com as suas atividades espiritualistas, e, ainda era comum o senhor Burgos atender pacientes indicados pelos próprios médicos, como desenganados e que não viam melhoras na medicina convencional da época, assim através de orações dedicadas ao Dr. Custódio José Duarte, o senhor Burgos curava a esses enfermos de tuberculose, dando-nos a certeza de que o elo Dr. Custódio e o senhor Augusto Messias de Burgos é muito mais forte do que se possa crer. Também podemos contemporizar que esses dois espíritos têm acessos aos mundos fluídicos, tanto de Kardecistas como da Filosofia Espiritualista Cristã, nos dando a sensação de que esses mundos fluídicos são espirais congêneres, porém com conceitos e percepções diferentes, apenas aguardando pela concórdia de homens corajosos, mas prudentes para reunifica-las numa única razão, assim como as Leis Naturais, que são únicas na razão da espiritualidade.

19 de setembro de 1893 - 130 anos da desencarnação de Dr. Custódio José Duarte - Por Wilson Candeias
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1 Site Hemero Teca Digital - Revista A Renascença
Documento cedido pelo Diácono Manoel Santos da Diocese de Mindelo – Cabo Verde
3 Livro não publicado “A Vida e a Luta de Luiz de Mattos”, 1992, de Fernando Faria
4 Livro Como e por que se tornou Racionalista de Bernardo Scheinkman
Livro História do Racionalismo Cristão em São Vicente. Por Prof. João Vasconcelos - Universidade de Lisboa – 1911