Assinalou-se na
terça-feira, 13 de Junho, o centenário do Liceu Nacional de Cabo Verde, criado
em substituição do Seminário-Liceu de São Nicolau, a funcionar,
provisoriamente, no edifício
do seminário extinto, e, a 8 de Outubro, a decisão
da sua instalação em São Vicente, tendo o Decreto aprovado o Plano Orgânico da
Instrução Pública de Cabo Verde que estabelece no seu artigo 11.º que "o
ensino secundário é ministrado no Liceu Nacional criado pela Lei n.º 701, de 13
de Junho de 1917, com sede em São Vicente".
O Liceu Nacional de
Cabo Verde viria a ser inaugurado com pompa e circunstância a 19 de Novembro de
1917.
Liceu Nacional de Cabo Verde (1917-1926)
No processo da
criação e instalação do Liceu impõe-se uma figura singular, o Senador Augusto
Vera Cruz (Sal, 1862 – 1933).
O Senador Vera Cruz
conseguiu que a publicação da Lei que extinguia o Seminário-Liceu criasse
simultaneamente o Liceu Nacional de Cabo Verde e, depois de duras batalhas, a
sua transferência para funcionar em São Vicente.
Havendo o problema
de instalação nessa ilha por falta de um edifício, o Senador Vera Cruz cedeu a
sua residência na Praça Nova, passando ali a funcionar o Liceu por 3 anos, até
à sua instalação definitiva no antigo Quartel do Corpo da Polícia.
Liceu Central Infante Dom Henrique (1926-1937)
Em Janeiro de 1926,
a impregnação do ideário nacionalista levou à atribuição ao liceu do nome Liceu
Central Infante Dom Henrique, vindo a ser encerrado a 26 de Outubro de 1937.
Anunciada a extinção
dois dias depois, através da Rádio Colonial Portuguesa, em poucos minutos São
Vicente ficou a conhecer essa notícia e Cabo Verde ficou de luto, chegando o
jornal Notícias de Cabo Verde a sair no dia 1 de Novembro, véspera do dia de
finados, com uma tarjeta negra e em grandes parangonas a frase ”Cabo Verde de
Luto!”.
Na sequência, a
Câmara Municipal reuniu-se em sessão extraordinária e decidiu expedir um
telegrama ao Governador da Colônia solicitando empregar “todo seu valimento
telegraficamente Lisboa sentido manutenção liceu aspiração máxima cerca 160.000
habitantes”, e desenvolveu-se uma cruzada para salvar o Liceu, que envolveu a
Associação Industrial, Comercial e Agrícola de Barlavento, a Associação de
Pais, a União Nacional, os Sokols de Cabo Verde, professores e alunos e população
de todas as categorias.
Face a essa grande e
intensa movimentação, doze dias após o seu encerramento, chegou a notícia de
que o Ministro do Ultramar havia comunicado que o liceu iria reiniciar as aulas
imediatamente.
Liceu Gil Eanes (1937-1975)
A 9 de Novembro, o
liceu de São Vicente foi reaberto com a designação de Liceu Gil Eanes, com a
justificação de se ter atribuído o Infante Dom Henrique como novo patrono ao
Liceu de Macau.
Até 1960 o Liceu de
São Vicente foi o único estabelecimento de ensino secundário a funcionar em
todo o arquipélago, não sendo de estranhar a sua assinalável influência no
perfil da elite cabo-verdiana de então que se evidenciava pelo seu carácter
intelectual e ideológico e pela sua integração numa ilha cosmopolita e de gênese urbana.
Entretanto, na
sequência da visita do Presidente da República General Craveiro Lopes, em 1955,
foi criado na cidade da Praia a Secção do Liceu Gil Eanes, com um vice-reitor, Dr.
Aníbal da Cunha Leal, sendo reitor do liceu o Dr. Baltasar Lopes da Silva.
Liceu Nacional da Praia (1960-1975)
Em 1960 foi criado
um liceu autônomo na capital da província de Cabo Verde, o Liceu Nacional da
Praia. Dois anos após, na sequência da visita do Ministro do Ultramar a Cabo
Verde, esse liceu passou a designar-se Liceu Adriano Moreira.
– Liceus Nacionais, Novos Patronos
Com o processo
revolucionário e da independência nacional, ir-se-ia mudar os patronos dos
liceus. Por despacho do Ministério da Educação e Cultura, de 24 de Abril de
1975, o Liceu Nacional Adriano Moreira passa a designar-se Liceu Domingos
Ramos, em homenagem ao herói do PAIGC natural da Guiné, morto em 1966. E, por
despacho de 19 de Maio, o Liceu Gil Eanes passa a ser Liceu Ludgero Lima, em
homenagem ao combatente da Pátria e ex-funcionário desse estabelecimento de
ensino falecido a 23 de Março de 1975 vítima de acidente de viação.
100 Anos do Liceu em
Cabo Verde
Por Brito-Semedo