O Mar!
Cercando prendendo as nossas Ilhas!
Deixando o esmalte do seu salitre nas faces dos pescadores,
roncando nas areias das nossas praias, batendo a sua voz de encontro aos montes,
… deixando nos olhos dos que ficaram a nostalgia resignada de países distantes …
… Este convite de toda a hora que o Mar nos faz para a evasão!
Este desespero de querer partir e ter que ficar! …
— Poema do Mar, Jorge Barbosa

O eterno problema da educação

O grave problema da educação não deve ficar restrito a criança. A educação deve ir mais além, deve ir aos pais das crianças. Estas sofrem invariavelmente a influência do lar. Elas imitam seus pais a falar, no andar, no viver, enfim, todos os seus bons e maus hábitos.

Logo, pais que tenham maus hábitos, maus costumes, vícios etc., estão contaminando os filhos; embora queiram dar educação, pregam muito, nada adiantam, porque a criança vai gravando mais do que vê do que o que ouve.

Assim sendo, é de máxima necessidade a criação de escolas para pais, e isso feito será meio caminho andado para a verdadeira educação da criança. Escolas para pais? Parecerá absurdo, mas não é, porque a escola poderá ser o Teatro ou todo o recinto que onde se façam preleções sobre a educação. Todos empregam esta palavra, mas pouco lhe dão valor que ela tem.


Atualmente então, com a demasiada liberdade que existe, com a falta de disciplina nas escolas, com a pouca ou nenhuma ideia de educar, a criança vai se educar de uma maneira assaz desenvolta, sem raciocínio, tendo tudo o que quer, agindo quase instintivamente, sem saber ainda o que deseja a vontade e quando é preciso educa-la para o bem, para o domínio de si mesma.


A criança precisa de liberdade sim, precisa de dar expansão a sua inteligência, a sua vivacidade, e a vivacidade é um sinal de saúde, de bem esta, de equilíbrio, mas a par dessa liberdade dessa vivacidade, deve estar o respeito ao seu semelhante, aos seus professores, e hoje é que menos existe; as crianças não sabem respeitar, não sabem obedecer e crescem sem saber sofrear a vontade.

Tudo evolui, não há dúvida, mas a educação não tem evoluído, pelo contrário, quanto mais inteligência, quanto mais vivacidade vão tendo os espíritos que encarnar, menos freio existe para eles, razão porque tantos se perdem.

É necessário, pois, procurar educar os pais para que eles corrijam os seus filhos, dando-lhes primeiramente exemplo, corrigindo-se a si próprios, vivendo de uma maneira racional e inteligente, procurando guiar as crianças com carinho, mas com energia, não sendo déspota, não lhes batendo barbara e estupidamente, mas procurando corrigir os seus vícios e defeitos, pois eles se vão arraigando nos seus espíritos, e essa corrigenda se faz castigando-as moralmente, tirando-lhes aquilo do que mais gostam.

Se assim fizerem os pais, conseguirão bem mais do que castigando-as moralmente.

As escolas precisavam também de terem um pouco mais de disciplina; os seus professores um pouco mais compostura. Hoje em dia, as crianças governam os pais e procuram também desrespeitar os professores. Um colégio sem disciplina e sem método, que aceita as observações insensatas de pais que se deixam levar pelas vontades dos filhos, é pernicioso, porque não tem autoridade, não tem disciplina, e um colégio sem disciplina não é recomendável.


É preciso que haja atividade, expansão de inteligência, esporte, ginástica, enfim, tudo quanto o corpo e o espírito necessitam, mas é preciso que não falte a disciplina, o respeito, a ordem, que infelizmente periclitam dia a dia, deve haver intimidade entre alunos e professores, mas dentro de todo o respeito, de o contrário não haverá amizade, e sim confusão.

Desejamos todo fazer em prol da criança. Nesta casa, a criança tem regalias, pois esta Doutrina se destina as gerações, vindouras, e eis que de vez em quando nos batemos pela educação da criança, a fim de que os pais tomem medidas enérgicas para reprimirem os seus maus hábitos, reformando usos e costumes.

A criança precisa de quem a guie, moralmente agora em que os espíritos que encarnam vêm cheios de luz, ansiosos de progresso, e portanto, cheios de atividade inteligência.

É preciso, pois, muito cuidado; esclareça-se racional e cientificamente, para que todos saibam cumprir esse grande dever: o de guiar a criança na senda do dever e justiça e é necessário que ela seja guiada desde pequenina para que mais tarde não venha a sofrer as consequências de uma falsa educação.


O eterno problema da educação

Por LUIZ DE MATTOS
Fonte:
Reunião Pública de 20 de Abril de 1934
Colaboração: Maria de Fátima Almeida


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